domingo, 19 de novembro de 2017

Mais atenção a quem se esforça por aprender a ler

Uma entrevista a não perder...

É importante o leitor sentir o que sentem as personagens?
É muito importante. Os leitores devem partilhar as emoções com as personagens da história que estão a ler. Se uma personagem está preocupada, o leitor deve ficar preocupado; se a personagem está em perigo, o leitor deve sentir o coração a bater mais depressa; os leitores devem estar, de certa forma, apaixonados pelas personagens. Se a história é assustadora, o leitor deve sentir (olha para a direita e para a esquerda), deve sentir medo [risos]. É isso que importa e é isso que nos envolve com a história de forma a não querermos que o livro acabe depressa. Queremos continuar. E o melhor é quando o leitor acaba o livro e pensa: “Quando é que vou poder ler mais um livro como este?”.
(...)
Voltemos ao tema dos livros longos. Preocupa-o que um livro longo afaste leitores? Os hábitos de leitura das novas gerações preocupam-no, estarão as crianças a ler menos?
Não penso que as crianças estejam a ler menos. Não acho que as gerações mais novas tenham perdido hábitos de leitura. Olhe para o caso do fenómeno “Harry Potter”, milhões de miúdos em todo o mundo ficaram loucos com os livros. E isso foi porque a J. K. Rowling escreveu livros fantásticos, histórias fantásticas. Darmos boas histórias aos miúdos é a única forma de os pormos a ler. Com os adultos passa-se o mesmo. Se os livros são chatos, ninguém vai querer lê-los. Se forem interessantes, vão querer. Eu sei que um tweet tem 140 carateres, não é? E é disso que as pessoas gostam, coisas muito curtas. Mas essa afirmação não é totalmente verdadeira e prova disso são os meus livros. Se um livro é interessante as pessoas não se importam que ele seja grande. Podem demorar um mês ou dois a lê-lo... mas, se estão a gostar do livro, fico feliz. Portanto, não creio que seja verdade que as pessoas leiam menos. O que acho é que muitas crianças têm dificuldades de aprendizagem na leitura. Muitas crianças sofrem de dislexia o que dificulta a leitura. Temos de passar a dar mais atenção a essas crianças porque elas precisam de uma ajuda extra. Fui presidente de uma instituição de caridade, durante uns tempos, chamada Dislexia Action, que ajudava as crianças. As pessoas que leem pouco são, muitas vezes, pessoas que nunca aprenderam a ler convenientemente. E é um grande azar sofrer de dislexia porque a leitura vai ser mais difícil, muito mais, uma criança com dislexia tem de trabalhar mais do que as outras. Mas um disléxico pode aprender a ler e até pode vir a ler com facilidade e ganhar prazer na leitura. É por isso que acho que temos de prestar mais atenção e gastar mais dinheiro na educação das crianças que têm dificuldades em aprender a ler. Eu não era assim. Para mim... Eu era um desses miúdos que achavam que ler era muito fácil, aprendi a ler antes de entrar para a escola. Mas muitos miúdos têm dificuldades na leitura e não é por serem menos inteligentes... É porque... eles acham tão difícil ler como eu acho difícil desenhar um cavalo, por exemplo. Se me disser “Ou desenha um cavalo ou mato-o”, eu respondo: “Mate-me, já!”. Nunca serei capaz de desenhar um cavalo. Por isso, temos mesmo de dar mais atenção aos que se esforçam por aprender a ler. Fora este fator, não acredito que as pessoas tenham deixado de ler. Muitos jovens leem os meus livros e recebo e-mails e tweets e mensagens no Facebook onde me dizem “Adorei o seu livro”.

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